quinta-feira, 12 de março de 2009

O Jardim


Eu quis cuidar das tuas sebes. Plantar flores novas no teu jardim. Regar a terra com o meu amor. Eu quis ver as buganvílias florir e esperar pelas estações num canteiro de violetas. Mas tu não querias um jardineiro, querias outra flor, e eu não nasci flor. A minha semente sempre foi outra. Nasceu em alguém, não foi na terra. Por isso eu não me daria bem na tua terra. Nem na tua nem em qualquer outra. Porque eu, quanto muito, em vez de gente seria pássaro, nunca uma flor. Mesmo que me pusesses numa redoma (como sempre quiseste), eu morreria, pois não vim a este mundo para ser admirada apenas. Vim porque preciso que me toquem e cheirem. Que me levem o cheiro na pele. Preciso que me gastem. Preciso que os pós cósmicos caiam sobre mim e eu resista. Preciso ficar doente para criar anticorpos e curar-me. E não preciso que me reguem com água, mas sim com amor.Eu quis cuidar das sebes do teu jardim e nem dei conta que o teu jardim me prendia lá dentro. Senti as sebes apertarem-me os braços e as pernas, mas julguei que fosse carinho. Senti as rosas arranharem-me com os seus espinhos, mas pensei que fosse paixão. Senti as ervas daninhas crescerem, mas julguei serem um desafio. Nem dei conta que o teu jardim me estava a sufocar...Quando já mal conseguia respirar, pensei que estava perdida. Mas o teu jardim (carnívoro) cuspiu-me. Parece que o jardim também tem de gostar do jardineiro.
Eu quis cuidar das sebes do teu jardim e nem reparei que o meu jardim já nem sebes tinha...

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