terça-feira, 31 de março de 2009

XX e XY


*"As mulheres são geralmente tidas como seres complicados, mas são-no apenas porque os homens não falam, ou falam pouco. Esta é uma sinergia (ou uma falta dela) que se verifica desde o início dos tempos. Vejamos Adão e Eva. Aquilo foi a história do costume: boy meets girl born from boy´s rib, trocam números de telemóvel, na minha árvore ou na tua, ela a fazer-se rogada e a fingir que finta a serpente, ele a acabar por comer a maçã, uma, duas, três vezes, enfim, um festim. Logo depois começam os problemas. Enquanto Adão fuma um cigarro enrolado à mão e pensa na eficácia das armadilhas para coelhos que inventou no dia anterior, Eva pergunta, Gostaste?. Claro, responde-lhe Adão (é evidente que gostei, que raio de pergunta, se não, não estava aqui). O laconismo não satisfaz Eva, que não desarma. Mas gostaste mesmo da minha maçã? Quanto é que gostaste? Numa escala de um a dez quanto é que lhe dás? E Adão, já chateado que nem um peru com o interrogatório que o obriga a fazer contas de cabeça com o único neurónio de que Deus o dotou, espera que o assunto morra ali com a sua sinceridade, Gostei muito, mas por acaso gosto mais das bravo-esmolfe, são mais docinhas, apesar de estarem pela hora da morte. Aquilo que é a mera constatação de uma preferência inocente, é visto por Eva como uma ofensa pessoal e um sintoma de rejeição. Ao princípio, ainda tenta esmiuçar a preferência de Adão, esforçando-se por compreendê-la (no que seria imitada por todas as fêmeas vindouras). Mas porque é que preferes as bravo? A minha não era doce? E onde é que ficaste ontem até às tantas? Perante a incapacidade de resposta por parte de Adão (que bloqueia, bombardeado com tanto pedido de informação ao mesmo tempo, como um PC dos antigos) segue-se a vingança. Que consiste na erosão da masculinidade de Adão. No dia seguinte, quando ele chega a arfar com um veado às costas, ela começa, Também, sempre veado, sempre veado, não sabes caçar outra coisa senão veado? Estou farta de comer essa porcaria, já não aguento, todos os dias o mesmo, vê lá se caças uma coisa maior, tipo um alce, ou és demasiado mariquinhas para isso? Adão mantém-se calado antes, durante e depois do jantar, a virilidade acabrunhada e recolhida na sunga de pele curtida, a pensar que de bom grado a deixaria morrer à fome, a cabra, ainda por cima cozinha mal, os veados parecem sempre solas. E ao mesmo tempo põe-se a imaginar se, escondidas nos matagais paradisíacos, não andarão outras evas, quiçá bravo-esmolfe, que o apreciem e lhe dêem o devido valor. O silêncio de Adão contunde com os nervos já precários de Eva (que tem de andar descalça e enrolada em folhas, sem uma manicura ou sequer uma zara nas imediações), que pensa que, por não ter obtido resposta, não foi ouvida. Este é um erro que, depois dela, foi sendo desde sempre cometido pelas mulheres: o de não perceberem que, se os homens não respondem ou não lhes dão a resposta que querem, não é necessariamente porque não tenham ouvido nem queiram saber, mas apenas porque têm o cérebro num diferente comprimento de onda. E muitas vezes nem sequer perceberam a pergunta. Ou a utilidade dela. Então Eva inventa o teatrinho feminino, em que a sua gritaria evolui na proporção directa do mutismo de Adão. Que ele já não gosta dela, que na verdade nunca a amou, que não gosta da árvore que ela arranjou para os dois, que a cena de caçar veados é só para embirrar com ela, que nunca a ouve, que é um egoísta, que nunca vai com ela contemplar o pôr-do-sol. Adão acha aquilo tudo um disparate e que Eva é essencialmente uma ingrata que não aprecia o esforço dele que vem a alancar com os veados às costas até à árvore de morada de família, e começa a ouvi-la como ruído de fundo enquanto acaba de chupar o osso da coxa de um bambi excepcionalmente tenrinho que se perdera da mãe. O seu único neurónio às voltas, a pensar em como se livrar daquela Eva que não fecha a matraca e que não sabe cozinhar. Durante uns tempos, ainda tenta agradá-la e salvar a relação primordial, porque, apesar de ser incapaz de lho verbalizar, gosta dela (é verdade que a falta de opções também ajuda). Mas Eva, definitivamente inoculada com o vírus da raiva, como resposta ao laconismo silencioso de Adão, só consegue depreciar, no que se torna um vício que lhe traz um gozo amargo. Um alce? Mas para que é que a gente quer um alce morto, um bicho tão grande? Depois apodrece tudo e é só larvas. Estás a ver aqui no meio do pomar alguma arca frigorífica?. E assim, enquanto Eva, dando um uso fácil e de arremesso às palavras em excesso, finge odiar Adão, este começa de facto a odiar Eva, embora sem palavras. Às tantas, ele olha-a como uma insuportável galinha tonta que lhe cacareja nas costas o tempo todo e ela, apesar da generosa distribuição de neurónios com que foi contemplada, é no fundo uma parva, porque mantém até ao fim a esperança de que ele um dia lhe diga o que lhe vai na alma. Sem perceber que o que lhe vai na alma é apenas ir comendo umas bravo-esmolfe aqui e ali, ir matando uns alces enquanto solta uns gritos de guerra, e que lhe apreciem a virilidade saliente sob a sunga de pele curtida."


*Tirado de http://controversamaresia.blogs.sapo.pt/176840.html porque eu escrevo bem, mas reconheço a superioridade!

Este senhor é capaz de me tornar praticante...

D. Ilídio Leandro
Bispo de Viseu
Defensor do uso do preservativo e do divórcio

quinta-feira, 26 de março de 2009

Para que não se esqueçam...


"Resolvi marcar o Penalty... com muita Tranquilidade"

By Carlos Martins, SLB

terça-feira, 24 de março de 2009

O Fado da Deolinda


E esta voz canta a doer
Sem fado nem amor, que resta?
O fado não é mau,
Não é um crime ou um defeito
É um emaranhado de cordões
Que nos entrelaça o peito
E precisa de ser solto.
Corre o risco de sufoco
Quem prende o fado na voz
E anda ali com aqueles nós
A apertarem a garganta.
É mais rico quem o canta;
Pobre quem lhe dá prisões!
Tu e eu não somos dois...
Meu amor, tens de pensar
Que isto é pegar ou largar,
São estas as condições:
Tu e eu e as canções.
Um peito que canta o fado
Tem sempre dois corações!

PS - Sim, eu sei que vocês entendem português, mas esta é a minha parte preferida.

sexta-feira, 20 de março de 2009

CGD


Mais valia porem cromos nesta caderneta.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Wishlist de Aniversário, porque já não falta assim tanto!

Ir aqui: Maldivas


Voltar aqui: Nova Iorque

Uma polaroid (esta é bem fofinha)

Uma massagem das boas!

Estes são tão giiiros!!!

Vou continuar a insistir nisto, pode ser que tenha sorte...

Por agora ficamos assim. Quando me lembrar de mais, acrescento.*

quarta-feira, 18 de março de 2009

Amália, coisa mai linda!


"Não peças demais à vida,
Aceita o ela te deu
Uma janela florida
Mostra a cor de todo o céu."

terça-feira, 17 de março de 2009

Pokémon


"O Benfica teve o verdadeiro Veloso; o Sporting ficou com a imitação Pokémon."


[Amei]

Viva a Vitória (única e exclusivamente!)


No sábado foi a minha estreia aqui.
E cheira-me que a coisa não correu bem porque os putos que chamaram a Vitória (que é uma fofinha, mas ao longe!) estavam muuuuito descompassados.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Está a chegar esta altura do ano:


O Coração


Dói-me tudo menos o coração.

(Porque sabes cuidar muito bem dele) :)

As minhas costas (08/12/2006)


Estar sozinha é muito difícil. Aprende-se numa semana o que levaria um mês a perceber-se se se vivesse acompanhado. Acompanhado pela família, pelos amigos, pelo senhor da mercearia, pelo motorista da Carris que nos abre a porta do autocarro todos os dias, pelo polícia que está sempre na mesma rua àquela hora. Aqui também há amigos, merceeiros, motoristas e polícias. Mas são outros. E há famílias mas não a nossa família. As nossas pessoas. As caras que já vimos milhões de vezes (no verdadeiro sentido da expressão) e das quais nunca enjoámos. Longe sente-se mais falta de tudo. Até do que não se fazia mas sempre se pôde fazer. Sente-se mais falta daquele livro que não se leu, do passeio que não se deu, da visita que não se fez."Não peças um fardo ligeiro, pede umas costas fortes" - foi o que eu fiz. Deve ser por isso que geralmente consigo tudo o que quero (mesmo que venha fora de prazo), devido às costas fortes. E um dia hei-de repousar as costas para elas poderem descansar finalmente. Ou não.

A Perda


Perder alguém, mesmo no sentido mais suave da palavra, dói. Dói muito. O peito contrai-se e falta-nos ar, porque essa pessoa dava-nos a força que precisavamos para respirar melhor. Perder alguém, faz doer. Faz doer o coração, mesmo que nos digam que o coração não dói. Fica-se fraco, triste, só. Perder alguém, incomoda. Incomoda como andar à chuva. Mesmo quando não chove.
Perder alguém, esvazia. Esvazia-nos. A cabeça e o corpo. Ficamos sem órgãos vitais, porque já não há fome, sede, sono. Só o coração (que já morava noutro peito) volta. Fica. Bate lento e descompassado, tendo mais vontade de parar do que de bater. Mas não pára, porque ninguém morre por amor. Morre-se sim pela falta dele.

Cheia



Adoro uma mão cheia seja do que for, e também uma boca cheia de palavras doces.

Gosto de me sentir cheia de sonhos e de ter um dia em cheio.

Agradam-me os copos meio cheios e não gosto de pessoas cheias de si.
Tenho medo das cheias no Inverno.

Quem sou eu?


Olhos tristes (que herdei da minha avó), sorriso tímido (que herdei de mim), ar de quem está desconfiado (que herdei da vida).

Cabelo volumoso e despenteado, olhar atento e, ao mesmo tempo distante, como quem viaja com os pés na terra e a cabeça nas nuvens.

Nunca me ensinaram a lutar; vou aprendendo sozinha a evitar os acidentes (alguns, porque há outros que são necessários).

Nunca me ensinaram a procurar, a compreender, a não desistir; mas é o que sempre tenho feito: procuro compreender que não devo desistir.

Também nunca me ensinaram a ser feliz, mas posso garantir que o sou. Apesar de tudo e, sobretudo, dos olhos tristes.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Quando eu Crescer...


Quando eu crescer vou fingir que não sei nada (mesmo que saiba). E vou fazer de conta que sou uma princesa à espera de príncipe (ou já com ele), de longos cabelos morenos e sedosos (sem Pantenes Pro-V nem Herbal Essences).

Quando eu crescer vou ser astronauta e médica e cabeleireira. A cabeleireira vai ser a mais faladora das três. A astronauta a mais inteligente. A médica a mais humana.

Quando eu crescer vou brincar muito. Tal como agora. Falar com as plantas da minha avó como se elas fossem sempre maiores que eu, e chapinhar nas poças de água.

Quando eu crescer ainda vou gostar de ler BD e ver desenhos animados. Vou ver a Rua Sésamo, As Fábulas da Floresta Verde e a Sailor Moon até enjoar.

Quando eu crescer vou fazer muitos bolos de laranja e comer Peta-zetas. Oxalá as Peta-zetas de banana durem para sempre!

Quando eu crescer vou andar sempre de sorriso nos lábios. Vou chorar pouco. E quando o fizer, vou olhar-me ao espelho para ver os meus olhos ficarem verdes e ter algum consolo.

Quando eu crescer vou passear muito, conhecer o mundo inteiro, e comer bolas de berlim no Guincho, nos dias de chuva (e nos de sol também).

Quando eu crescer vou andar no banco da frente do carro e já não vai ser preciso fingir que sou eu que conduzo.

Quando eu crescer vou correr muito. Saltar à corda e jogar à macaca. Ainda hei-de gostar de jogar ao Peixinho com o meu avô.

Quando eu crescer vou tomar conta deles, da avó e do avô, tal como eles tomam conta de mim agora.

Quando eu crescer vou passar dias a ver televisão e a comer porcarias. Daquelas que fazem doer a barriga e que ainda ninguém me deixa comer.

Quando eu crescer hei-de ter um cão. Castanho. Com olhos tristes como os meus. Para que ao olhar-me se sinta compreendido.

Quando eu crescer há-de haver alguém que goste de mim. Acho eu. Porque quando eu crescer nunca mais vou ter de ficar sozinha. Nem de dormir a sesta.

Quando eu crescer vou ter uma casa cheia. De amigos. Quero ter sempre muitos amigos. Dos bons. E alguns maus para dar ainda mais valor aos primeiros.

Quando eu crescer vou saber distinguir entre o bem e o mal. E fazer o bem.

Quando eu crescer vou sonhar muito. Sobretudo acordada. Vou deixar de fingir. Vou ler muito. Escrever ainda mais. Porque quando eu crescer vou saber escrever. E falar. E conversar.

Quando eu crescer vou tirar todas as dúvidas. Acabar com as incertezas e perceber porque é que as coisas às vezes não são como queremos.

Quando eu crescer, alguém me lembre de ser criança.

A (minha) Vida


Já viajei muito. Já conheci pessoas diferentes. Já plantei árvores e escrevi um livro. Já fiz amigos e desfiz amizades. Já caí, já me magoei, já me levantei. Já comi pratos exóticos e bebi líquidos indecifráveis. Já chorei. Já senti falta. Já perdi e já encontrei. Já quase morri (mais do que uma vez). Já ouvi histórias que eram realidade, e já vi realidades em que não acreditei. Já chamei por alguém que não olhou para trás. Já me zanguei com deus e fingi não ter fé. Já sorri muito. Já me fizeram surpresas boas (e algumas desagradáveis). Já andei à chuva. Já beijei na chuva. Já gostei muito e já odiei. Já me enraiveci. Já cheirei perfumes inesquecíveis e já ouvi músicas que nunca esquecerei. Já tive momentos para sempre. Já acreditei no “para sempre”. Já passei por dificuldades e já tive tudo o que queria. Já me enganei. Já pedi desculpa e já fui orgulhosa. Já me caíram em cima estrelas cadentes e já pedi desejos que nunca se realizaram. Já lutei pelo que quis e já baixei os braços. Já pedi o impossível. Já sonhei acordada e a dormir. Já dormi muito. Já fugi. Já me encontrei. Já gastei energia naquilo que não devia e já me empenhei em muitos sonhos que nunca passaram disso. Já soube muita coisa ao contrário e deixei de saber muita coisa certa. Já dei muito. Já pedi mais. Já cheirei a roupa lavada e descalcei os sapatos ao chegar a casa. Já tomei banhos intermináveis e já fiquei no escuro a pensar. Já fui preguiçosa e já deixei passar oportunidades. Já cresci. Já diminuí. Já dancei na rua e já cantei para muita gente. Já representei. Já fui outras sendo sempre eu mesma. Já fui a maior, a melhor, mas nunca a pior. Já fiz maldades e não me arrependi. Já proporcionei momentos inesquecíveis e já me esqueci de muita coisa que não devia ter esquecido. Já aprendi e desaprendi. Já perdoei e já fui perdoada. Já amei. Já fiz tanta coisa nesta vida e, no entanto, ao invés de estar cansada, tenho ainda mais vontade de viver. Não quero morrer amanhã. Nem depois.

Os cabelos


A vida não é uma curtição, mas também não é nenhuma angústia pesada que temos de carregar nos ombros todos os dias. A vida, às vezes, é como os teus cabelos: no dia a dia sempre igual; em certos dias, especial.

Marinheiro


Eu só queria saber
Porque os novelos têm nós,
Porque há muros nas ruas,
Porque tememos ficar sós?
Uma vez disse-te baixinho
Para seres capitão do meu barco;
Navegares devagarinho
Por todo o meu imenso espaço.
Pedi-te para teres cuidado,
E não fazeres como as marés
Que vão sempre mais do que vêm,
E só me molham os pés.
Porque eu quero mergulhar,
Sentir-te nas ondas do mar,
Quero afogar-me em ti!
Talvez hoje
Talvez nunca,
Talvez um dia,
Quem sabe,
Os dois nos encontremos
Num caminho por aí...
Muitas vezes dou comigo
A lembrar-me do meu medo
De te contar tudo, e no fim,
Não restar um só segredo
Para me esconder de ti.
Mas tu fugiste de mim
E não quiseste saber;
Agora sou um barco vazio
Que só pensa em se perder...
Quero perder-me no mar,
Porque não encontro o sentido
De ser barco a navegar,
Sabendo que tu estás perdido.
Não fujas de mim marinheiro,
Porque eu vejo-te como és...
E ainda que te precise muito,
Sei que o que há mais são marés...

A Ilha


Isto de sermos, cada um, uma ilha, tem muito que se lhe diga.

Nascemos sozinhos, vivemos sozinhos, e morremos (ainda mais) sozinhos.

É por essas e por outras que eu não gosto de ilhas. Quanto muito, gosto é de arquipélagos.

Aqui e Ali


Aqui e ali não me encontro nem me acho, talvez nem me procure! Talvez nem me saiba procurar... Não sei se tenho medo de me encontrar, mas sei que tenho medo de me perder. Totalmente. Porque, em parte, já me sinto perdida. Em parte alguma e em toda a parte. É onde estou. É onde quero ir, vou e não vou. Talvez porque não sei de onde venho. Ou sei, mas não me lembro. Ou lembro, mas quero esquecer-me. Há em mim uma confusão entre o que quero e o que não quero. Não sei decidir sozinha, mas mais ninguém pode decidir por mim. Aqui e ali não me encontro nem me acho, não me ouço nem me vejo. Mas sinto-me! Sei que estou aqui ou ali, ou aqui e ali ao mesmo tempo. Porque ainda que não me veja nem me ouça, vejo e ouço outros que falam para mim. E sei que é para mim porque me olham. E é quando me olham que tenho uma ideia do meu lugar. Aqui e ali, onde não me acho, é talvez onde estou.

O Jardim


Eu quis cuidar das tuas sebes. Plantar flores novas no teu jardim. Regar a terra com o meu amor. Eu quis ver as buganvílias florir e esperar pelas estações num canteiro de violetas. Mas tu não querias um jardineiro, querias outra flor, e eu não nasci flor. A minha semente sempre foi outra. Nasceu em alguém, não foi na terra. Por isso eu não me daria bem na tua terra. Nem na tua nem em qualquer outra. Porque eu, quanto muito, em vez de gente seria pássaro, nunca uma flor. Mesmo que me pusesses numa redoma (como sempre quiseste), eu morreria, pois não vim a este mundo para ser admirada apenas. Vim porque preciso que me toquem e cheirem. Que me levem o cheiro na pele. Preciso que me gastem. Preciso que os pós cósmicos caiam sobre mim e eu resista. Preciso ficar doente para criar anticorpos e curar-me. E não preciso que me reguem com água, mas sim com amor.Eu quis cuidar das sebes do teu jardim e nem dei conta que o teu jardim me prendia lá dentro. Senti as sebes apertarem-me os braços e as pernas, mas julguei que fosse carinho. Senti as rosas arranharem-me com os seus espinhos, mas pensei que fosse paixão. Senti as ervas daninhas crescerem, mas julguei serem um desafio. Nem dei conta que o teu jardim me estava a sufocar...Quando já mal conseguia respirar, pensei que estava perdida. Mas o teu jardim (carnívoro) cuspiu-me. Parece que o jardim também tem de gostar do jardineiro.
Eu quis cuidar das sebes do teu jardim e nem reparei que o meu jardim já nem sebes tinha...

Sabes que as coisas vão mal quando o que mais te apetece é isto: